Um grande abraço, meu querido Vasco!

Incontornável! Omnipresente! Ser maior! Intrigante! Saudoso!

Serão estes predicados suficientes para descrever este homem que tantas vezes é aflorado nas nossa conversas mais brejeiras, figura mítica, mística do nosso saudosismo colectivo! Eu já o conheci! Pessoalmente! Foi-me apresentado nos meados dos anos 90, quando ainda fingia que trabalhava, numa divisão pública... camarária!

Numa tarde quente de Julho, lá estava eu calmo e sereno a ver as horas a passar lentamente, a olhar para uma folha em branco, quando uma colega minha da altura entra na sala e diz-me para ir lá fora até à sala de reuniões! Estava lá alguém que eu ia gostar muito de conhecer!
Naquela altura já era famosa a minha retórica apaixonada e apologista dos filmes de animação, para miúdos e graúdos, com recorrente recurso à figura do Vasco!

Ela, antes de eu entrar, diz-me quem lá está dentro! Subitamente, começam-me a tremer os joelhos e a suar bem mais que o costume (e olhem que já me chamam o homem-piscina)!
-Não! A sério? Mesmo? "O" VASCO? O da Pink Panther e do do Fritz Freeling?!
No momento em que aquela porta branca foi aberta, a primeira coisa que conheci foi um dos sorrisos mais afáveis e curiosos que alguma vez encontrei! Era acompanhado de um par de olhos que me sorriam e me saudavam com distinta alegria! As mãos estendidas cumprimentaram-se amigavelmente! Afinal de contas, não éramos perfeitos desconhecidos, tantas tinham sido as vezes em que comungámos do mesmo espaço horário, nos mesmos dias, durante tanto tempo! Eu de um lado do televisor, ele do outro!

Tinha lá ido pedir apoio para um rapazito que trazia a tiracolo, de não mais de 14/15 anos e que andava a congeminar uma "animaçãozita" das suas, precisando assim dum subsidiozito ou qualquer coisa do género! O Vasco era vizinho do puto, e tinha ficado muito interessado no trabalho deste, decidindo assim ajudá-lo da melhor maneira que encontrou... a patrociná-lo com a sua presença! Porra...o gajo era mesmo à maneira!

Ainda tive tempo de falar com ele um bocadinho, ficando com a nítida sensação de nada ter dito! Tal era o atabalhoamento nervoso e psicótico que me percorria naquela altura! O Vasco parecia tão alto! Ou então fui eu que naquele instante fiquei outra vez com a altura de quando tinha 8 ou 9 anos! Acho que foi isso! Juro!
E ele lá ia respondendo: - Pois aqueles filmes que a malta achava muito esquisitos, não era?!
E lá partiu ele com a sua boina de padrão escocês assente naquela maravilhosa cabeça, recheada de imagens em movimento, com Coiotes sem sorte nenhuma e de panteras que infernizam a vida a inspectores judiciários! Mui nobre, este cavaleiro dos desenhos animados! Herói de carne e osso da minha vida!

Voltei a encontrá-lo novamente! Onde e quando não vos digo! Não me dirigi a ele, quedei-me há distância a admirar aquela figura frágil, porém altiva, do Vasco, que escutava com a atenção dos sonhadores outro utópico como ele! Sobressaia na multidão aquele homem franzino. Mas só aos meus olhos talvez! Acho até que ninguém estava a dar por ele!

Por tudo o que me deste pá, agradeço-te tanto que nem imaginas! Não consigo é explicar-te melhor! É que fico sempre nervoso e outra vez pequenino...só de falar de ti! Olha pá! Um grande abraço para ti... meu querido Vasco Granja!

Com problemas sudoríferos há mais de 3 gerações!
Excelsior