quarta-feira, junho 15, 2005

Um JellyJah para dois VIII

-Estou…
-Olá
-Olá mãe.
Nunca a voz materna lhe tinha parecido tão inoportuna. Agora, agora que ele esperava o telefonema mais importante da vida, a mãe ligava a perguntar se ele tinha comido as maçãs da Tia. Quero lá saber da porcaria das maçãs.
-Fiz aquele puré, como me ensinaste e comi com os bifes que o pai me deu.
A conversa prolongava-se. Os segundos eram horas e o corpo tremia de ansiedade.
-Mãe, estou cheio de trabalho.
-Já me estás a despachar? Olha, só eu e o teu pai sabemos o que passámos para te pagar o curso…
-Oh Mãe, por isso mesmo, tenho de desligar para não estragar o investimento…
-Mal criado!
-Também te amo, mãe. Era a frase infalível. Aprendeu-a a ver uma novela brasileira e resultava sempre. A Mãe desligou e o equilíbrio familiar estava, como sempre, intacto.
Já passou uma eternidade e ela não responde. Vou ligar, afinal o número vem com a mensagem. Mas isso pode assustá-la, eu posso ser o Violador da Baixa, que só naquela semana já tinha abusado de 3 velhinhas ou 4, uma não apresentou queixa.
Como um cavaleiro, pegou nas rédeas do telefone e ligou.