domingo, junho 05, 2005

Um JellyJah para dois

Era uma vez um menino e uma menina. Os dois iam em breve ser amigos.
Vivam num bosque de cimento, mas não era um bosque como outro qualquer bosque de cimento. Este não tinha sobreiros, mas tinha Rio, tinha História, tinha cuecas e soutiens pendurados nas janelas, tinha eléctricos, tinha ruas estreitas e avenidas largas. De dia ouvia-se o chilrear das vizinhas, à noite ouvia-se a Tourada do Tordo e o Depois do Adeus do Carvalho.
Quando esta história começou, o menino e a menina ainda não se conheciam. Ele trabalhava numa repartição pública, daquelas que abre às 8 e encerra às 15. Ela, mais moderna, passava 8 horas num Call Center a atender chamadas de pessoas com muitas dúvidas sobre coisa nenhuma.
A vida do menino e da menina era chata, como são chatas todas as vidas que não aparecem na televisão ou nos filmes, em que os personagens nunca têm de enfrentar os silêncios e a pasmaceira. Acordar, ir para o trabalho, aturar as conversas dos colegas e dos fregueses, que tinham vidas tão ou mais chatas do que as deles e à noite, à noite era a Tourada e o Depois do Adeus, nada mais. Músicas de Fuga, dizia o menino, enquanto bebia uma Boémia e lia a Bola gordurenta, que o dono do café ao pé de casa lhe dava todos os dias. Músicas de Libertação, pensava a menina enquanto bebia uma boémia às escondidas da balança e arrancava com uma pinça os pelos que tinham escapado à fúria da depiladora.
Na televisão, os 56 canais passavam vezes sem conta e nada os prendia.
Viviam assim os nossos meninos, deprimidos, sem cor, sem Amor.

Era um sábado à noite igual a tantos outros. Os meninos estavam em casa e o telemóvel mudo, nem uma mensagem, nem um telefonema, nada. Tanto a menina como o menino tinham muitos amigos, mas, por uma razão ou por outra, ultimamente ambos passavam as noites em casa, até que um verdadeiro milagre aconteceu...

2 Comments:

Anonymous Anónimo diz...

Ah...o menino da repartição era o Fernando Pessoa...e a menina era a Ofélia dele.

Pensavas que não andava atenta cavaleiro das arábias?

E sim é verdade, o Pessoa encontrou o milagre Jellyjah a ouvir músicas de fuga, muito antes delas aparecerem. Um tipo de vanguarda, esse Fernandito.

Flôr de Lótus

05 junho, 2005 23:11  
Anonymous Anónimo diz...

Esperei... esperei... já não aguento mais...
e o resto? e o resto? oh nobre cavaleiro, conta o que há depois... do Adeus...

06 junho, 2005 11:50  

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